El Salvador continua acumulando Bitcoin sem violar o acordo com o FMI

Quando um Estado desafia as instituições internacionais, as linhas às vezes mudam. Frente a El Salvador e seu presidente Nayib Bukele, o Fundo Monetário Internacional (FMI) hoje dá a impressão de recuar. Depois de exigir a suspensão das compras de Bitcoin, ele deve lidar com um país que, sem renegar seu compromisso oficial, continua apostando no rei das criptomoedas por vias indiretas. Uma lição de estratégia financeira que mostra que até os gigantes às vezes precisam se adaptar.

El Salvador ainda compra bitcoin apesar do acordo de dezembro de 2024

Em abril de 2025, o Escritório de Bitcoin de El Salvador confirmou a a aquisição de 7 novos bitcoins por mais de 650.000 dólares. No entanto, a pedido expresso do FMI, um acordo foi assinado em dezembro de 2024: ele impunha a suspensão de toda acumulação pública de BTC antes de dezembro de 2025 e a liquidação dos fundos detidos pelo Estado.

Mas Rodrigo Valdes, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, declarou que “El Salvador continua cumprindo seu compromisso de não acumular“. Uma fórmula cuidadosamente escolhida: a estratégia atual permite comprar bitcoin através de entidades não governamentais ou modificando sutilmente a natureza jurídica dos detentores de BTC.

Lina Seiche analisa essa retórica:

Nunca foi dito que eles deveriam parar de comprar hoje; trata-se de uma obrigação futura.

Jogando com a semântica, Bukele mantém assim sua imagem pró-Bitcoin enquanto evita violar seu acordo com a instituição internacional.

O FMI tenta salvar a imagem: entre exigências econômicas e tolerância calculada

Oficialmente, o FMI concentra agora seu discurso em reformas mais amplas: governança, transparência, combate à corrupção. Rodrigo Valdes ressalta:

O programa de El Salvador não é centrado no Bitcoin, ele trata de reformas estruturais profundas.

No entanto, os termos iniciais foram claros: para desbloquear o empréstimo de 1,4 bilhão de dólares, El Salvador deveria cessar qualquer envolvimento público com o bitcoin e revelar o estado de suas reservas em criptomoedas, incluindo o Chivo, a Agência de Gestão Bitcoin e até mesmo a usina hidrelétrica do rio Lempa.

Essa virada do FMI parece traduzir uma forma de pragmatismo forçado: em um contexto onde Bukele não recua em sua exibição pró-cripto, é melhor salvar o essencial – as reformas macroeconômicas – do que arriscar uma batalha política. Uma abordagem flexível que pode se espalhar para outras negociações futuras.

A astúcia salvadorenha: preservar o entusiasmo pelo Bitcoin enquanto preserva os financiadores

Prometendo conformidade técnica, El Salvador consegue conciliar sua imagem de pioneiro do bitcoin com as exigências dos financiadores internacionais. Enquanto o FMI se contenta com o cumprimento dos critérios “fiscais”, o governo Bukele discretamente multiplica as iniciativas pró-cripto. Anndy Lian, especialista em blockchain, resume perfeitamente a situação:

El Salvador mantém sua imagem amigável ao Bitcoin enquanto garante um financiamento vital.

Internamente, a dinâmica econômica acelera: aumento do turismo, investimentos estrangeiros em infraestruturas Bitcoin e fortalecimento da rede local de cripto.

Nos mercados, se o preço do bitcoin passou por uma fase recente de baixa, os fundamentos em El Salvador permanecem sólidos. DeepSeek AI ainda vê um cenário otimista de preço até o final de 2025, apesar da volatilidade atual.

Em suma, Bukele avança como um jogador de xadrez, assegurando o futuro econômico do país sem trair seu compromisso ideológico.

No entanto, uma dúvida permanece: essa mudança de postura do FMI não teria sido facilitada pelas recentes discussões entre Nayib Bukele e Donald Trump, símbolo de uma América mais indulgente com as experiências financeiras alternativas?