Cripto: Nvidia fecha novamente a porta para a blockchain

O cenário cripto poderia marcar uma virada histórica. Uma parceria entre Nvidia e uma rede blockchain, um reconhecimento oficial da cripto por um gigante dos chips eletrônicos. No entanto, como de costume, a esperança virou miragem. A poucas horas do anúncio, a Nvidia retirou seu apoio, deixando o projeto no limbo. Um cenário que resume uma relação tumultuada: apesar dos avanços tecnológicos da blockchain, a empresa californiana mantém uma posição clara. A cripto continua sendo persona non grata em seu ecossistema.

Nvidia e a cripto: uma história de amor contrariada

O episódio recente da Layer 2 Blockchain, excluída no último momento do programa Ignition AI Accelerator da Nvidia, não é um acidente. É o sintoma de uma desconfiança arraigada. Os critérios de exclusão de projetos relacionados a cripto em programas emblemáticos como o Inception são inequívocos. Uma regra tácita, porém inflexível.

Não é uma ruptura súbita, mas sim uma consequência lógica. Em 2018, Jensen Huang, CEO da Nvidia, já mencionava as ressacas causadas pelo colapso das criptomoedas.

Estoque de GPUs encalhados, multas regulatórias… O legado é pesado. Mais recentemente, em 2023, o diretor técnico Michael Kagan descartou com um gesto a utilidade social da cripto: “Isso não traz nada de útil para a humanidade”, afirmou, preferindo enaltecer as promessas da IA.

No entanto, as pontes não estão totalmente cortadas. Em março de 2024, durante a Graphics Technology Conference, Jensen Huang dividiu o palco com Illia Polosukhin, cofundador da NEAR Protocol… sem jamais mencionar a blockchain.

A mensagem é sutil, porém clara: a Nvidia tolera atores híbridos, desde que se concentrem na IA. A cripto? Um assunto a evitar, ou a ser mencionado com metáforas evasivas.

IA, prioridade absoluta de um gigante com recursos limitados

Mas por que essa desconfiança persistente? A resposta está em duas letras: IA. A Nvidia escolheu seu lado. Entre as blockchains, vistas como voláteis, e a inteligência artificial, um setor em plena explosão, o cálculo é rápido.

As parcerias com figuras como Polosukhin, cujos trabalhos sobre Transformers revolucionaram a IA, ilustram essa estratégia. Crédito em infraestrutura, mentorias, recursos: tudo é canalizado para o aprendizado de máquina.

Os recursos não são infinitos. Em 2023, a demanda por GPUs para IA gerou faltas globais. Nesse contexto, integrar a cripto significaria diluir esforços já colossais. Um risco que a Nvidia se recusa a correr. Mesmo quando Huang menciona “dinheiro programável” em uma conferência, a alusão permanece teórica. Nenhum roteiro, nenhum compromisso.

Resta uma questão: a cripto realmente precisa da Nvidia? Alguns projetos blockchain conseguiram construir ecossistemas descentralizados sem depender dos gigantes da tecnologia. Uma filosofia alinhada ao espírito peer-to-peer das origens.

Para a Nvidia, ignorar a cripto pode até se tornar uma vantagem: ao evitar polêmicas relacionadas à mineração ou à especulação, a empresa preserva sua imagem junto às empresas tradicionais.

O encontro perdido entre Nvidia e a cripto não é surpresa. É o resultado de uma escolha estratégica assumida há anos. Entre as promessas da IA e as incertezas da blockchain, o gigante californiano decidiu.

Para os atores da cripto, a lição é clara: não adianta correr atrás das preferências da Nvidia, é melhor traçar seu próprio caminho. Afinal, é frequentemente fora dos caminhos tradicionais que nasce a verdadeira inovação. E isso não invalida a profecia de um próximo a Satoshi, que já vê o bitcoin ultrapassar a marca do milhão.